(Atualizado em 28 Março 2021)
Físicos sérios leram sobre Sir Isaac Newton para aprender acerca das suas descobertas acerca da gravidade e movimento. Investidores sérios e qualquer investidor que queira ser inteligente lêem o trabalho de Benjamin Graham para aprender sobre finanças e investimentos: O Investidor Inteligente.
Neste artigo:
21 maiores lições do livro O Investidor Inteligente
Quem foi Benjamin Graham
Conhecido como “o pai do investimento em valor” e o “Decano de Wall Street”, Ben Graham (1894-1976) destacou-se ao ganhar dinheiro no mercado de ações para si e para os seus clientes sem assumir grandes riscos. Graham criou e ensinou muitos princípios de investimento com segurança e sucesso que os investidores modernos continuam a usar ainda hoje.
Essas ideias foram construídas sobre a diligente, quase cirúrgica avaliação financeira das empresas. Sua experiência conduziu à lógica simples, eficaz, em que Graham construiu um método bem sucedido para investir.
O seu legado
O trabalho de Graham é lendário em círculos de investimento. Ele foi acreditado como o criador da profissão de análise de segurança. Embora mais conhecido como mentor de Warren Buffett, Graham também foi um autor famoso, mais notavelmente pelos seus livros “Security Analysis” (1934) e “The Intelligent Investor” (1949). Graham foi um dos primeiros a utilizar exclusivamente a análise financeira para investir com sucesso em ações. Ele também foi uma peça fundamental na elaboração de muitos elementos da Lei de Valores Mobiliários de 1933, também conhecida como a “Verdade na Lei de Valores Mobiliários”, que, entre outras coisas, exigia que as empresas fornecessem demonstrações financeiras certificadas por contabilistas independentes. Isso tornou o trabalho de análise financeira de Graham muito mais fácil e eficiente, e nesse novo paradigma ele conseguiu.
Os seus começos
Graham era um estudante fabuloso na universidade da Colômbia em New York, e foi trabalhar em Wall Street logo após a sua formação em 1914. Ele construiu um legado muito forte nos 15 anos seguintes com o uso da sua atenção afiada aos detalhes. Mesmo assim, ele ainda não tinha aperfeiçoado a sua estratégia de investimento.
Ele perdeu a maior parte de seu dinheiro no crash do mercado de ações de 1929 e na na subsequente Grande Depressão. Depois de aprender uma dura lição sobre risco, ele escreveu “Análise de Investimentos” (publicado em 1934), que narrava os métodos de Graham para analisar e valorizar títulos. Este livro tem sido usado por décadas em cursos de finanças mas é um livro pesado e não dedicado ao investidor comum. Como o investidor comum não é literado em economia decidiu criar o investidor inteligente.
Os seus altos e baixos
As suas perdas no crash do mercado de ações de 1929 e na Grande Depressão levou Graham a aperfeiçoar as suas técnicas de investimento. Estas técnicas procuraram lucrar em ações, minimizando o risco de queda. Ele fez isso comprando ações de empresas cujas ações eram negociadas muito abaixo do valor de liquidação das empresas.
Em termos simples, o seu objetivo era comprar o valor de um dólar de ativos por 50 centavos, e ele fez isso muito bem, tanto na teoria como na prática.
Haviam dois métodos que Graham costumava usar. O primeiro método foi o uso da psicologia do mercado. Ou seja, usando o medo e a ganância do mercado a seu favor. O segundo foi investir pelos números.
As suas teorias: “Sr. Mercado” e margem de segurança
Graham destacou a importância de olhar para o mercado como um parceiro de negócios que lhe oferece algo para você comprar ou venderr conforme o seu interesse. Graham se referiu a essa pessoa imaginária como “Mr. Market”. Graham disse que às vezes o preço do Sr. Market faz sentido, mas às vezes é muito alto ou baixo, dadas as realidades económicas do negócio.
Você, como investidor, é livre para comprar o produto do Sr. Mercado, vender ou até mesmo ignorá-lo se você não gostar do seu preço. Você pode ignorá-lo porque ele amanhá estará de volta com uma oferta diferente. Essa é a psicologia do “mercado de uso”. Graham viu a liberdade de ser capaz de dizer “não” como uma grande vantagem que o investidor médio tinha sobre o profissional que era obrigado a investir a todo o momento, independentemente da avaliação atual dos títulos.
Graham também enfatizou a importância de ter sempre uma margem de segurança nos seus investimentos. Isso significava apenas comprar uma ação apenas a um preço que estivesse bem abaixo de uma avaliação conservadora do negócio. Isto é importante porque permite o lucro quando o mercado reavaliar eventualmente a ação para o seu valor justo, e dá também alguma proteção caso o valor da ação desça. Este era o lado matemático do seu trabalho.
O investidor inteligente retrata o Sr. Mercado em detalhe e é uma ideia muito importante para absorver.
A sua vida como um grande investidor e professor
Além do seu trabalho de investimento, Graham dava aulas de análise de segurança na Columbia University. Aqui, ele estava fascinado com o processo e a estratégia de investir – tanto quanto estava fascinado com ganhar dinheiro. Para este fim, ele escreveu “The Intelligent Investor” em 1949. Este livro forneceu mais conselhos práticos para o investidor comum do que fez o “Security Analysis”, e tornou-se um dos livros de investimento mais vendidos de todos os tempos.
Warren Buffett descreve “The Intelligent Investor” como “de longe o melhor livro sobre o investimento já escrito” – elogios para um livro relativamente simples. Buffett disse que Graham foi incrivelmente generoso com os outros, especialmente com as suas idéias de investimento. De fato, Graham passou a maior parte dos seus anos de reforma a trabalhar em fórmulas novas e simplificadas para ajudar investidores médios a investir em ações.
Depois de ler “The Intelligent Investor” aos 19 anos, Buffett matriculou-se na Columbia Business School para estudar sob Graham, e posteriormente desenvolveram uma amizade ao longo da vida. Mais tarde, ele trabalhou para Graham na sua empresa, a Graham-Newman Corporation, que era semelhante a um fundo fechado de investimento. Buffett trabalhou lá por dois anos até que Graham decidiu fechar o negócio e se reformar.
Mais tarde, muitos clientes de Graham pediram a Warren Buffett que gerenciasse o seu dinheiro e, como se costuma dizer, o resto é história. Buffett passou a desenvolver a sua própria estratégia, que diferiu de Graham’s em que ele sublinhou a importância da qualidade de uma empresa e de realizar investimentos indefinidamente. Graham normalmente iria investir com base puramente nos números de uma empresa, e ele iria vender um investimento por um valor predeterminado. Mesmo assim, Buffett disse que nunca perdeu dinheiro ao seguir os métodos e conselhos de Graham.
O investidor inteligente é obrigatório para qualquer investidor
Se se está a perguntar sobre os ganhos de Graham, tem sido dito que ele em média conseguia cerca de 20% de retorno anual através de seus muitos anos de gestão de dinheiro, embora detalhes dos investimentos Graham não estejam prontamente disponíveis. Ele conseguiu esses resultados num momento em que a compra de ações ordinárias foi amplamente considerado como um jogo puro, mas Graham comprou ações com um método que forneceu tanto de baixo risco e um bom retorno. Por esta razão, Graham foi um verdadeiro pioneiro da análise financeira.
O investidor inteligente é por isso talvez a obra mais importante no mundo dos investimentos.
21 maiores lições de O Investidor Inteligente
01 – Não invista demais em ações.
Os mercados de subida (bull market) acabam ocasionalmente, e é bom ter algumas obrigações em carteira. (Leia também: o que são obrigações)
02 – Não invista de menos em ações.
As Obrigações não podem fazer muito por você, e é bom aplicar capital em ações quando elas estão desfavorecidas. (Leia também: Investir na bolsa)
03 – As ações fornecem uma compensação modesta contra os riscos de inflação.
Uma das grandes lições deste livro é que é impossível fugir ao risco. Apenas podemos minimizá-lo. Deixar o dinheiro “parado” em contas à ordem tem também risco, e não falamos de risco do banco falir, falamos no risco de desvalorização do dinheiro por efeito da inflação. No longo prazo a inflação destrói as nossas poupanças se não tivermos os cuidados necessários.
Leia também: O que é a inflação
04 – Evite títulos resgatáveis. Evite ações preferenciais.
Na altura não haviam muitos dos tipos de ativos que existem hoje mas o principio mantém-se, investir em produtos complexos tem mais risco do que potencial recompensa. Fique pelos produtos simples e que entende bem.
05 – Seja conservador ao investir em Obrigações.
Leia o prospeto com atenção. Frequentemente, uma Obrigação é menos segura do que se esperaria e, ocasionalmente, oferece mais valor do que se esperaria.
06 – Compre ativos com valor.
Compre ativos com base no valor contabilístico do ativo (quando você puder encontrá-los!), mas tome cuidado com as questões de qualidade. Ser barato não é suficiente!
07 – A volatilidade dos preços das ações pode ser sua amiga se você compreender o valor intrínseco de uma empresa bem financiada.
Lembre-se sempre que investir em ações deve ser feito com perspetivas de longo prazo, e no longo prazo pouco importa se em determinado dia as ações subiram ou desceram 2%.
08 – Ter um horizonte de investimento de longo prazo é valioso, porque pode-se tirar vantagem das flutuações de preço de curto prazo.
Invista em produtos que façam sentido para o seu horizonte temporal. Contas poupança e certificados de aforro são bons para o curto prazo, obrigações para o médio prazo e ações para o longo prazo.
09 – Vale a pena pagar pelo crescimento, mas seja disciplinado. Não pague a mais.
Lembre-se sempre que o retorno é obtido em função do preço pago.
10 – Desconfie de fundos mútuos geridos ativamente.
No tempo do Ben Graham não existiam fundos índice mas o Decano de Wall Street já na altura recomendava a ampla diversificação à maioria dos investidores. Pagar comissões altas para ter o nosso dinheiro gerido ativamente não compensa, até porque está mais do que provado que os fund managers não conseguem melhor retorno que a média do mercado.
11 – Desconfie de especialistas.
Investir não é complicado mas há pessoas que gostam de complicar e fazer crer que é complicado para justificar o seu trabalho.
12 – Preste atenção ao balanço; não invista em empresas com financiamento inadequado.
Se tenciona investir em empresas especificas em vez de fundos, não o faça apenas com base na sua intuição. Uma rápida análise ao balanço e cash flows da empresa pode poupar-lhe muito sofrimento!
13 – Reveja os ganhos médios das empresas cíclicas.
Não é difícil ter bons retornos com empresas cíclicas que você compreende bem.
14 – Compre títulos seguros e baratos. Não pague a mais por crescimento e tendência ou “empresas da moda”.
Como dizia o Peter Lynch, “Boring is good”. Empresas da moda com promessas de lucros fantásticos na maioria das vezes não passam da promessa. Enquanto isso, empresas “chatas” com nomes banais muitas vezes passam despercebidas em Wall Street e são investimentos fantásticos.
15 – Evite empresas altamente aquisitivas.
Quando uma empresa se mete em muitas coisas não é boa em nada. Fique-se por negócios que são excelentes naquilo que fazem.
16 – Observe o fluxo de caixa e questione praticas contabilísticas incomuns.
A chamada “contabilidade artística” é muito comum e as empresas gostam de reportar grandes ganhos mas é dificil enganar os fluxos de caixa. Não importa se uma empresa apresenta muitos lucros mas não tem entradas de fluxo de caixa.
17 – Tenha cuidado com (novas) empresas não experientes.
Na maioria das vezes, empresas não experientes falham.
18 – Fortes políticas de dividendos, em empresas que podem suportar os dividendos, são um indicador de valor.
Se uma empresa é consistente a pagar dividendos aos sócios, mesmo em períodos em que a economia está fraca, isso é sinonimo de boa gestão e é um bom indicador de valor.
Leia também: o que são dividendos.
19 – Busque uma margem de segurança em todos os investimentos.
Se você acha que um negócio vale 10000€, não pague 10000€ por ele, pague no máximo 70% desse valor. Lembre-se sempre que você pode estar errado nas suas contas!
20 – Pense por si!
A alegoria do Sr. Mercado é famosa não só em Wall Street mas também por todo o mundo. Pense no Sr Mercado como um maníaco-depressivo que é seu sócio e todos os dias lhe diz um preço para comprar a sua parte da empresa ou vender-lhe a dele. Você não é obrigado a comprar ou vender-lhe nada. Mas pode fazê-lo se for do seu interesse. A bolsa é isso mesmo!
21 – Se não quiser perder tempo a analisar empresas, invista num fundo de índice o mais amplo possível
Para a maioria dos investidores, esta última lição é a mais importante e valiosa de todas.
Benjamin Graham e Warren Buffet sempre deixaram bem claro que o investidor comum está mais bem servido se optar por investir apenas em index funds. Graham faz muitas vezes a distinção entre investidor passivo e ativo e deixa bem claro que investir ativamente na maioria dos casos não vale o esforço extra. John Bogle, o “pai” dos fundos índice partilhava da mesma opinião. Mesmo os ultra ricos que investem ativamente reconhecem que para a maioria das pessoas, a abordagem de investimento passiva é de longe mais inteligente. E mais simples!
Se você não quer perder tempo a analisar empresas, faça um portfólio de etfs bem diversificado e aproveite o seu tempo livre com outras coisas de que gosta mais.
Leia também: Como construir um portfólio diversificado.
Onde comprar O Investidor Inteligente
Encontrar o Investidor Inteligente em Português não é fácil porque ele “não existe”. A versão em Português é na verdade Português do Brasil e não é fácil encontrar em Portugal. Pode ser comprada por exemplo na bookdepository onde custa cerca de 35€. Pode ser encontrado regularmente no olx por cerca de 65€.
Já em Inglês a história é bem diferente. É muito fácil encontrar a 8ª edição do livro em qualquer loja como a fnac, a bertrand ou a wook e custa cerca de 25€. Já vi a menos de 10€ mas são resumos ou versões digitais.
Vale a pena comprar o livro?
Embora o livro não seja indicado para alguém que nada sabe sobre investimentos ele não é difícil de ler. É necessário ter algumas noções básicas como por exemplo o que é um fundo, o que são ações ou obrigações, mas nada de demasiado complexo. Alguém que tenha interesse em investimentos e tenha encontrado esta página, certamente terá os conhecimentos mínimos para entender perfeitamente o livro.
Vou ainda mais longe e digo que se apenas pudesse escolher um livro sobre investimentos, este seria provavelmente a minha primeira escolha.
Curiosidade: Se você ler 3 livros sobre um qualquer tema, sabe mais sobre esse tema do que 99% do mundo!