(Atualizado em 7 Março 2021)
Fala-se muito nos jornais económicos sobre os PPR (plano poupança reforma) mas embora sejam melhor que não ter nada, não são necessariamente boa ideia.
Os media pintam regularmente um cenário negro para o futuro da segurança social em Portugal. Muitos dizem que quando os millenials chegarem à idade da reforma, a segurança social vai estar falida e consequentemente não vai haver dinheiro para ninguém.
Ora eu cá já não acredito num cenário tão mau. Acredito sim que à medida que os anos forem passando o custo de vida irá aumentar por via da inflação e a segurança social irá estar cada vez mais em situação precária devido ao envelhecimento da população. Isto não significa que não vamos ter reforma mas significa que vamos ter reformas espremidas que mal darão para termos um estilo de vida digno.
Com este pensamento em mente, acho que todas as pessoas deveriam pensar num complemento para a reforma. Todas as pessoas deveriam poupar uma pequena parte do seu ordenado para o dia de amanhã, seja para ter uma reforma mais confortável, seja para imprevistos que o futuro possa trazer.
Os “peritos” em finanças aconselham a que se tenha 3 a 12 meses de poupanças como almofada financeira para o que der e vier, desemprego, doença, carro avariado, etc… 3 meses para aqueles que vivem com os pais e não têm nenhuns encargos, e até 12 meses para aqueles que têm filhos para manter.
Estou plenamente de acordo com esta ideia mas acho que não se deveria parar por aqui. Seja para a reforma, para uma nova casa ou para aquela viagem de sonho, poupar é sempre um hábito muito positivo!
Mas vamos então à questão que nos tras aqui hoje. Os PPR (plano poupança reforma) são bons ou maus?
A resposta é: depende! Os PPR são conhecidos por trazerem beneficios fiscais mas isso nem sempre significa ficar a ganhar.
O que é um PPR?
Um PPR (plano poupança reforma) é um subconjunto dos fundos mútuos com condições especiais de impostos, criado a pensar numa perspetiva de longo prazo para incentivar à poupança para a reforma.
Tal como num fundo mútuo “normal” eles podem investir em ações, obrigações e outros tipos de ativos.
Os fundos PPR são geridos ativamente (ao contrário de fundos índice) e consequentemente têm custos de manutenção mais elevados.
Vantagens e desvantagens dos PPR
Subscrever um PPR dá direito a uma dedução à coleta de 20% do valor subscrito com um máximo que depende da idade do subscritor:
– 400 euros até aos 35 anos
– 350 euros entre os 35 e os 50 anos
– 300 euros acima dos 50 anos
ou seja, para obter o benefício máximo, as entregas ao longo do ano têm que ser de:
– 2000 euros até aos 35 anos
– 1750 euros entre os 35 e os 50 anos
– 1500 euros acima dos 50 anos
Mas atenção aos limites conjuntos! Sobre os limites de dedução dos benefícios fiscais prevalece o chamado limite da soma das deduções à coleta. Esse teto geral, que varia consoante o rendimento coletável, junta, no mesmo “bolo”, sete categorias de deduções: benefícios fiscais; saúde e seguros de saúde; formação e educação; imóveis; pensões de alimentos; exigência de fatura; e lares. Assim, o benefício real para o contribuinte depende do escalão de rendimento coletável onde se integra e do valor de outras possíveis deduções à coleta a que tenha direito.
A segunda grande vantagem dos PPR está no imposto sobre os lucros, ou seja, cumprindo com os requisitos mínimos para resgate do PPR aquando da reforma, as mais valias são tributadas em 8%, ao contrario dos 28% que habitualmente são cobrados noutras mais valias.
A terceira vantagem dos PPR é o que eu chamo de uma vantagem escondida. Subscrever um PPR trás uma obrigação de manter o investimento por um longo período, sem lhe poder mexer (salvo circunstancias anormais como por exemplo desemprego prolongado ou doença). Ora isto para muitas pessoas que sofrem constantemente da tentação de fazer trading diariamente, ou para aqueles que se acham mais espertos que o mercado, evita que o investidor cometa erros emocionais e poupe imenso nos custos com transações. Para além do facto de que evita a formação de ulceras devido a uma olhada diária nos preços praticados em bolsa.
Pela negativa
Mas nem tudo é um mar de rosas. Subscrever um PPR também tem as suas nuances ou problemas.
Em primeiro temos a obrigação de manter o investimento. Sim! Isso é uma vantagem para alguns mas pode ser desfavoravel para outros. Se você quiser resgatar o PPR porque surgiu uma oportunidade melhor de investimento, não o poderá fazer sem penalizações.
Segundo, a falta de boas opções! Existem muitas opções de PPR no mercado Português mas isso não significa que sejam boas opções. Quando falo em boas opções não me refiro apenas à qualidade da gestão dos ativos, mas mais importante ainda, aos custos que essa gestão acarreta. Vamos ver com um exemplo!
Alves Ribeiro é o melhor PPR?
Desde que os senhores da Deco (proteste investe) passaram a recomendar o Alves Ribeiro PPR como uma boa escolha, que ele tem tido muita atenção. Peguei neste mas podia ter pegado noutro qualquer, não tenho nada em particular contra este fundo. Trata-se de um fundo com caraterísticas agressivas, ou seja, destinado a quem aceita mais risco e tem perspetivas mais de longo prazo.
Os analistas pintam um cenário em que o fundo tem tido boa performance mas na verdade ele tem tido boa performance porque as bolsas em geral têm tido boa performance.
Para além disso subscrever este fundo tem cerca de 2% de despesas de manutenção anuais. Não parece muito? Daqui até à reforma isso traduz-se em milhares de euros! sim, milhares!
É muito mais vantajoso comprar um index fund, há muitas boas opções mas deixo isso para outro dia.
Um PPR só compensa em casos em que realmente a pessoa vai ter um bom beneficio fiscal no momento da sua subscrição.
Para um PPR compensar no longo prazo terá que ter custos de manutenção inferiores a 1%.
Daqui até lá, se não for para poupar uns 300€ no IRS mais vale estar longe deles e criar um portfólio de etfs de baixo custo.